Lá pelo início da década de 60, no século XX, acreditem se quiserem, eu fui, acompanhado de minha mãe, meus irmãos e um nosso amigo, quase parente, em viagem de trem para Aracaju. Meus pais eram oriundos de Sergipe, de uma cidade chamada Lagarto, que situa-se, aproximadamente, 80 kms. da capital.
É óbvio que, pela passagem do tempo, poucos são os momentos que me recordo dessa viagem. Só sei que levamos uns bons dias. Até porque foi uma viagem cheia de baldeações, que quer dizer, passar de um trem para outro em determinada estação.
E isto se deu em várias oportunidades. A primeira delas em Belo Horizonte. A explicação para esta baldeação foi por motivo de troca de bitola. Ou seja, os trilhos a partir do Rio de Janeiro até Belo Horizonte, usavam a mesma medida. No entanto, daí para a frente era o que chamavam de bitola estreita. Isto quer dizer que o espaço entre os dois trilhos da estrada era menor do que aquele no percurso entre Rio e Belo Horizonte.
Uma outra coisa que me lembro foi que o tipo de trem em que embarcamos no Rio de Janeiro até Belo Horizonte, era o que podíamos chamar de trem especial. Com seus bancos (ou poltronas) acolchoados, oferecendo um conforto melhor aos passageiros. Mas daí para a frente os trens não possuíam nenhum conforto, oferecendo aos passageiros bancos de madeira, sem a menor cerimônia. Mas isso não chegou a nos abalar.
Então, a viagem se deu em vários trechos de baldeação. O primeiro, como já foi dito, do Rio até Belo Horizonte. Daí fomos para Montes Claros, no norte de Minas Gerias, pela razão simples de que o nosso quase parente (José), pretendia, na passagem, visitar um seu tio, o qual não via há longo tempo.
Em seguida, de Montes Claros, fomos parar em uma cidade chamada Monte Azul, já na Bahia. Naquela época, aquela cidade não passaria de um povoado, tal o seu tamanho. Mas foi lá que tivemos que pernoitar mais uma vez na viagem. Tenho lembrança de alguns episódios engraçados nessa parada mas, para poupar espaço e o tempo dos leitores, deixarei para narrá-los num dia futuro em que pretendo desenvolver um livro sobre a minha humilde vida.
A parada seguinte já foi na capital do estado da Bahia, Salvador. Como havia tempo para algumas perambulanças, tive a oportunidade de ver, lá, os famosos ônibus elétricos, que ainda não haviam na cidade do Rio de Janeiro e que, logo, seriam emplantados aqui, também.
O final de nossa viagem foi numa cidade sergipana chamada Salgado, a meio caminho de Aracaju, que ficaria mais perto do nosso deslocamento até ao nosso final, que era a cidade de Lagarto.
Apesar dos vários percalços durante a tal viagem, para mim e meus irmãos foi pura diversão e magia. Encarar uma viagem ferroviária de 2.000 kms., naquelas condições, só poderia ser uma tremenda bravura de nossa parte. Mas digo-lhes o seguinte: se me fosse dada a chance de repetir tal epopéia, confesso-lhes sem a menor dúvida: faria tudo novamente.
Mas todo esse preâmbulo, é para dizer que fico com o coração partido, toda vez que passo sobre os trilhos de trem que eram usados pela Estação Leopoldina, no final da Rua Ceará, próximo da Praça da Bandeira e do Canal do Mangue, que hoje estão abandonados, bem como a própria Gare da Leopoldina, por irresponsabilidade e desrespeito desses homens públicos que aí estão. Jogaram no lixo milhões e milhões de dinheiros, dinheiros que são nossos, dos impostos que pagamos, e que deveriam manter em uso tal trajeto ferroviário que, por certo, atenderia a milhares de contribuintes, trazendo conforto para eles em seus deslocamentos, para trabalho ou lazer.
Mas, infelizmente, o brasileiro ainda não tomou consciência dos valores materiais, patrimoniais, sociais e financeiros que esses políticos que estão aí nos dilapidam e desviam em proveitos próprios e que a cada dia que passa mais aumentam e nos custam mais caros.
Fazer o quê???
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