Ao ler as notícias estampadas na tela da versão digital de 'O Globo", deparei-me com a reportagem sobre um dos maiores músicos brasileiros, Hermeto Pascoal, reclamando do público em seu espetáculo, durante o show.
Ele chegou a perder a estribeira, manifestando-se irritadamente e dirigindo-se ao público, por exemplo, com essa afirmação: " Eu dou porrada em vocês, seus filhos da puta. Não sou contra o pagode, mas esse pessoal aí só sabe escutar isso". Está lá à disposição de quem quiser confirmar tal reação.
É óbvio que isso deverá repercutir na imprensa e no meio musical. Mas acredito que de forma positiva, pela maioria dos que tomarem conhecimento dessa reação do grande músico brasileiro.
Mas mesmo que haja alguém que venha a confrontar-se com tal declaração e reação do Hermeto, não conseguirá tanto apoio em criar dificuldades para o músico.
Como naquela velha história do "saber ler nas entrelinhas", esse episódio mostra uma situação muito comum em nosso país. Deixa configurado que ainda estamos muito atrasados pessoalmente, profissionalmente e, principalmente, culturalmente. Ainda não se tem a noção exata desse fato.
Lembro-me que nas décadas de 60, 70 e 80 (isso no século passado (XX)),
também havia alguma porcaria musical. No entanto, a maior parte do que existia, era de boa ou de excelente qualidade. Daí que, quase que obrigatóriamente, as pessoas assimilavam e absorviam o que lhes era apresentado. Tudo de primeira linha.
Mas hoje, inverteu-se esse processo. A maior parte do que está aí em termos de cultura e arte, deixa muito a desejar. São de qualidade muito aquém daquilo que se precisa e espera (não necessáriamente nessa ordem).
Isso promove nos jovens um estrago fenomenal. Eles já se acostumam a ter a seu dispor só coisas ruins e sofríveis, ficando difícil a eles poderem distinguir as coisas boas das ruins. Esse processo é invisível e imperceptível, daí ficar impossível a distinção entre o que é ou não de boa qualidade.
Parece-me que isso tudo é uma orquestração por parte de uns poucos, que possuem grande poder de ação, agir de forma contrária, colocando tais aberrações culturais e musicais à disposição da atual juventude, impedindo que a mesma tome conhecimento do que é bom. E só para não perder a viagem, traço uma comparação no que se vê, hoje, no futebol brasileiro. Uma tremenda molambada, que ontem chamávamos de perna-de-pau, jogando bola e engando os incautos. Porque de futebol (pelo menos para quem conhece disso), o que se pratica aí não passa nem perto ao que assistíamos nas décadas passadas.
Naturalmente que alguns dirão que os tempos são outros. Principalmente aqueles que não entendem nem de arte, música e futebol, dentre outras coisas. E que só estão a fim de encherem suas burras de dinheiro, independente do que colocarão aí para consumidores sem nenhuma observação ou poder de análise, do que presta ou não, para si ou para os outros.